quarta-feira, 4 de julho de 2012

As Mãos dos Cegos






Mãos que se tocam

Mãos que nos abraçam



Mãos que sentem o calor

Mãos que sentem o frio, a dor

Mãos que percebem a solidariedade

Mãos que percebem a desumanidade



Mãos que lêem o mundo

Mãos que vêem a vida



Mãos que lutam

Contra a discriminação



Mãos que lutam

A favor da inclusão

Escrito em 2009
por Anilda Piva

INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE A INCLUSÃO DO ALUNO DEFICIENTE VISUAL


Por: Anilda de Fátima Piva

 Profª de SAAI (Sala de Apoio à Inclusão)





1) Aspectos que podem causar deficiências:



I- Pré Natais

- Genéticas - Alterações de genes ou hereditárias:

·        Síndrome de Down, microcefalia, hidrocefalia, hipotireoidismo, albinismo, má formação, etc.



- Adquiridas:

 Congênitas (gravidez), desnutrição, diabetes, hipertensão, alcoolismo, drogas, etc.

·        Incompatibilidade sanguínea (fator RH, primos).

·        Infecções em geral: rubéola, sarampo, toxoplasmose, sífilis, AIDS, DST.



II- Peri Natais

·        Prematuridade

·        Trauma no parto (sofrimento fetal: demorado, bebê sentado, cordão umbilical enrolado ao pescoço);

·        Icterícias graves (fator RH).







III- Pós Natais

·        Desnutrição infantil;

·        Infecções como: meningite, encefalite, poliomielite;

·        Traumatismos: quedas, acidentes de trânsito, espancamentos;

·        Intoxicações: drogas, medicamentos, radiações e ações de produtos tóxicos.



2- Orientações específicas para família, professores, comunidade escolar e a sociedade em geral com relação à deficiência visual. 



I- Desenvolvimento normal da visão

·         Nascimento -  só percebe luz, mácula ainda não desenvolvida;

·         3 meses -  fixa e segue objeto;

·         9 meses - inicia visão de relevo – noção de distância e forma;

·         1 ano - reconhece objetos e parentes próximos;

·         4 anos -  visão quase completa;

·         5 anos - igual ao adulto, podendo melhorar até os 7 anos



II- DEFICIÊNCIA VISUAL: o que é?



É o comprometimento do canal sensorial mais importante na aquisição de informações.

Definida como limitação sensorial grave, capaz de anular ou reduzir a capacidade de ver, abrangendo vários graus de acuidade visual, ou seja, da capacidade visual de cada olho (medida).





III-  Classificação da O.M.S. em Genebra – 1981



Grau de perda        Acuidade Visual em ambos os olhos após  de Visão                              a melhor correção possível.

                   Máxima inferior a                  Mínima igual ou superior a

1                    3/10(0,3) – 30%                          1/10(0,1) – 10%

2                    1/10(0,1) – 10%                         1/20(0,05) – 5%

3                    1/20(0,05) – 5%                1/60 – contar dedos à 1m

4                    Percepção de luz

5                    Não percebe luz



       Quando: 1,2  - Portador de Baixa Visão

                       3,4,5 - Cegueira



   IV- CAUSAS DA DEFICIÊNCIA VISUAL



1.    Catarata Congênita:

·        impede a passagem da luz para a retina

·        e vista  embaçada.                             



2.   Glaucoma Congênito:

·        aumento da pressão interna do olho;

·        aumento do globo ocular;

·        muita sensibilidade à luz;

·        lacrimejamento e coceira no olho.





3. Outras doenças hereditárias:

·        albinismo;

·        anomalias na retina, córnea, íris, mácula;

·        altas miopias, etc.



4. Retinose Pigmentar (manifesta-se geralmente na adolescência):

·         degeneração da retina  que começa na parte periférica e acaba comprometendo a mácula.



5. Toxoplasmose - infecção da mãe durante a gravidez:

·        agentes transmissores encontram-se em fezes de cachorro,gatos, aves e carne de porco.



   6. Neurite Óptica - inflamação do nervo óptico do recém-nascido, associada a mães:

·        anêmicas;

·        subnutridas;

·        diabéticas ou

·        usuárias de drogas.



7. Conjuntivite Gonocócica:

·        (Peri-Natal) – mãe apresenta doença venérea e a transmite ao filho durante o parto normal.



8. Retinopatia do Recém-nascido:

·        (Pós-Natal) – ocorre nos bebês prematuros, expostos ao excesso de oxigênio.

9.  Nistagno:

·        sintoma de ordem neurológica e tem como conseqüência a desordem visual.



OBS: Essas doenças não são transmitidas por contato direto.





V- VISÃO CENTRAL

A imagem cai no centro da retina, é importante para a leitura de perto, longe e percepção de detalhes.



VI – VISÃO PERIFÉRICA

A imagem se forma na periferia da retina.



VII- CAMPO VISUAL, ACUIDADE VISUAL E EFICIÊNCIA VISUAL



·        O campo visual é toda a área que abrange a visão.

·        Acuidade visual é a capacidade visual de cada olho (medida).

·        Eficiência visual é a capacidade de o cérebro interpretar o que vê.





VIII- COMO DETECTAR CRIANÇAS COM POSSÍVEIS DIFICULDADES VISUAIS



·        Hipermetropia crianças com dores de cabeça que apresentam dificuldades para enxergar de perto, tonturas, cansaço visual, são dispersivas e preferem brincar ao ar livre.



·        Miopia – as crianças têm dificuldade para enxergar à distância, geralmente apertam os olhos para ver melhor e aproximam os objetos para perto dos olhos; são crianças mais tímidas, preferem atividades mais próximas da mão: leitura, pintura, brincadeiras e jogos.



·        Astigmatismo – pode estar associado à hipermetropia ou a miopia e consiste numa curvatura diferente da córnea. Pode causar dores de cabeça, ardor nos olhos, olhos vermelhos aos esforços visuais.



Nos três casos, aconselha-se o encaminhamento para o oftalmologista o quanto antes.



IX-  A ESCOLARIZAÇÃO DA CRIANÇA COM BAIXA VISÃO



1- Importância do Professor para:

·        aceitação da criança;

·        preparação da classe (acolhimento);

·        apresentação do ambiente físico  e dos colegas

·        propiciar meios para a aprendizagem:  riqueza de materiais muitas cores e texturas (diversidade);



2- Recursos Ópticos

Para perto: lentes de aumento (lupa manual e lupa de apoio)

Para longe: telescópio ou telelupa (para lousa, televisão, reconhecer ônibus).



Obs: Quanto mais poderosa a lente, menor o campo visual, é necessário destreza e treinamento  especializado para a utilização.



3- Recursos Não Ópticos



Não utilizam lentes para melhorar o desempenho visual, porém recomenda-se:

·        aluno na frente da sala;

·        iluminação adequada;

·        cadernos com pautas ampliadas;

·        lápis preto 4B ou  6B;

·        canetas hidrográficas para maior contraste (preferencialmente na cor preta ou azul);

·        lições ampliadas (textos, mapas, desenhos) ou com reforço nos contornos com hidrográfica na cor preta - de preferência;

·        avaliações ampliadas e com menos questões;

·        aproximação dos objetos.





X - CEGUEIRA



1- Programa de Intervenção Precoce

·         Estimulação da criança (preferencialmente ainda bebê);

·         Orientação à família.

·         SAAI – cujo trabalho visa à inclusão do aluno em sala regular o mais cedo possível.

·        Outras instituições como Fundação Dorina Nowill e Laramara.



2- Atividades Diretas

·         brinquedos, jogos e vivências do cotidiano;

·         esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal;

·         orientação e mobilidade;

·         coordenação motora;

·         desenvolvimento:  tátil, sinestésico e auditivo;

·         alfabetização pelo sistema Braille;

·         uso da reglete e da máquina Braille;

·         uso dos sintetizadores de voz:  Dos Vox e Virtual Vision;

·         uso do soroban;

·         uso de materiais adaptados como: régua, transferidor, compasso,    prancheta de desenho e outros;

·         transcrição de textos: em tinta ou em Braille

·         transcrição de trabalhos e avaliações do Braille para tinta (provas, atividades diversas);

·         adaptação de materiais: mapas, jogos, gráficos, desenhos;

·         orientação aos pais;

·         trabalho integrado com os conteúdos da sala regular;

·        trabalho de sensibilização com alunos da escola e com a comunidade.



XI- PROCESSO EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO DA CRIANÇA COM BAIXA VISÃO



·        Cada criança é única e deve-se respeitar o seu tempo e a sua capacidade de entender, seja ela deficiente o não. As pessoas têm personalidades diferentes e  da mesma forma cada criança terá seu jeito de assimilar os fatos cotidianos  e os conteúdos desenvolvidos em sala de aula.



·        A criança com baixa visão não deve ser comparada a uma criança que enxerga totalmente. Seu rendimento em classe é diferente, mas ela não deixará de aprender e de se desenvolver. Portanto, ela poderá ser incluída em todas as atividades escolares, tais como: arte, música, ginástica, teatro, apresentações de trabalhos, jograis, saraus, dentre outros.



·        As normas disciplinares aplicadas às outras crianças devem ser aplicadas também à criança com baixa visão, ela não deve ser tratada como uma “coitadinha” e excluída desse processo formador.



·        Com relação à locomoção: encoraje a criança a se locomover pela classe, na escola e no pátio, para que essa exploração forneça a ela informações preciosas sobre a escola.



·        Deixe-a aproximar-se dos objetos e manuseá-los.



·        Respeite o limite da criança e, se ela não pedir auxílio, não o dê. Porém, se perceber que essa criança está deixando de fazer a tarefa por constrangimento, medo ou insegurança em pedir ajuda, converse com ela em particular e esclareça o papel do professor na classe.

    

·        Mencione sempre o nome de quem fala, pois às vezes devido à distância, a criança não conseguirá saber quem está falando e nem sempre o tom de voz é fácil de reconhecer.



·        Procure, na medida do possível, desencorajar os “maneirismos”. Algumas crianças com baixa visão podem apresentar certos tiques. Por exemplo: balançar o corpo ou colocar as mãos sobre os olhos.



·        Na sala de aula, deixe que a criança que necessita de mais luz para ler e escrever sente-se próximo à janela.

·        Encoraje o uso da visão residual.



    Quando não consegue copiar o que está no quadro negro:



·        Deixe que a criança se levante;

·        Entregue cópia do que será colocado na lousa;

·        Dite vagarosamente as atividades;

·        Permita a gravação da aula;

·        Deixe-a utilizar o computador, pois este recurso permite que se  amplie o campo da letra tanto quanto for necessário;

·        Apresente uma avaliação ampliada e com menos questões (adaptação curricular);

·        Mapas, gráficos e desenhos também podem ser ampliados ou ter reforçado os contornos com a cor preta;

·        A criança com baixa visão pode apresentar cansaço visual, por isso, convém que o professor intercale as atividades de leitura e escrita com atividades orais ou recreativas (quando for o caso).



 Observar os alunos para detectar possíveis casos de problemas visuais para encaminhamentos oftalmológicos, como por exemplo:



• tonturas, náuseas e dor de cabeça;

• sensibilidade excessiva à luz (fotofobia);

• visão dupla e embaçada.

Condutas do aluno:

• aperta e esfrega os olhos;

• irritação, olhos avermelhados e/ou lacrimejantes;

• pálpebras com as bordas avermelhadas ou inchadas;

• purgações e terçóis;

• estrabismo;

• nistagmo (olhos em constante oscilação);

• piscar excessivamente;

• crosta presente na área de implante dos cílios.



IMPORTANTE: Considere rendimento escolar do aluno deficiente visual em termos de suas aptidões e potencialidades e não de suas dificuldades associadas à deficiência visual. Há muitas atividades que o aluno consegue realizar, à princípio, com a ajuda do outro (coleguinha ou do professor) e depois sozinho. Isso, sim, é que deve ser levado em conta.





Referências Bibliográficas:

Min, Hsu Yun, Sampaio, Marcos Wilson e Haddad Maria Aparecida Onuki. Baixa Visão: conhecendo mais para ajudar melhor. São Paulo. Laramara, 2001

Oliveira, Regina Carvalho de Salles, Kara-José, Newton e Sampaio, Marcos Wilson. Entendendo a Baixa Visão. São Paulo. Laramara, 2000.

Oliveira, Regina Carvalho de Salles, Kara-José, Newton e Arieta, Carlos Eduardo Leite. Manual da Boa Visão do Escolar: solucionando dúvidas sobre o olho e a visão. Brasília. Ministério da Educação, 2000.