sábado, 10 de setembro de 2011

A deficiência é um fenômeno construído socialmente

No início do capítulo I, temos a seguinte afirmação de Amiralian (1986): "a deficiência apresenta-se como um fenômeno construído socialmente e, dessa forma, ser ou estar deficiente é quase sempre relativo a outras pessoas que não são consideradas deficientes".
a)     Qual é a sua compreensão sobre essa concepção da autora?

“a inclusão social, portanto, é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio portador de necessidades especiais”.
                  (SASSAKI, 1999 - p.42) [1]

Interessantemente para entendermos ou discutirmos quaisquer situações ligadas à humanidade é necessário que revisitemos nosso passado e analisemos os aspectos históricos, cultuais, sociais e até mesmo econômicos ligados a ela.
Em nossa sociedade, assim como nas demais o “enxergar” sempre foi muito valorizado. Acreditamos, porém, que esta “mais valia” do ver é o resultado de um exagerado apelo visual imposto pelas sociedades, principalmente a moderna. A maneira como, ao longo dos séculos, a sociedade tratou e vem tratando as pessoas deficientes demonstra como o pensamento da Professora Amiralian está correto, pois toda a deficiência seja ela física, intelectual, auditiva ou visual está diretamente relacionada com a forma pela qual sociedade, ao longo dos séculos, reconhece essas pessoas e lhe atribui rótulos tais como heróis, demônios, deuses, vítimas... sujeito de direitos. Isso acontece porque no decorrer dos milênios, os deficientes passaram por diversas formas de segregação, exclusão e eliminação através da morte. Em outros tempos passam a ser vistos com simpatia e são alvos de afeição. Segundo Sadao Omote (2008 – p.17) [2] há condições aceitas por algumas comunidades e rechaçadas por outras, numa mesma época, gerando as mais variadas interpretações.  Cita como exemplo “as terríveis cicatrizes e mutilações de guerra, a posição privilegiada de heróis, admirados e valorizados”. Ao término da guerra, porém, esses mesmos heróis diante de uma recessão “podem perder seus privilégios e sofrer segregação e exclusão”.
 Assim pensando, a definição de cegueira a partir da ótica dos videntes, geralmente traz consigo a idéia de “menos valia”, isto é, de negação, de ausência de uma capacidade, de privação, de limitação. Nesse contexto, o senso comum das pessoas, e o imaginário coletivo levam-nas a acreditar que a cegueira seja uma situação impeditiva para que o cego possa se relacionar com o mundo de forma legítima, como sujeito/cidadão pleno de direitos. Nesse aspecto, durante logos anos, a história dos deficientes visuais, assim como a das demais deficiências, foram marcadas pelos estigmas e pelos preconceitos que os levaram à exclusão.
De acordo com Amaral (1994), [3] toda a carga de preconceitos e os estigmas pelos quais passaram e ainda passam (talvez em escala menor e de maneira velada) os portadores de deficiências são decorrentes “da aversão ao diferente, ao mutilado, ao deficiente”. Obviamente essa aversão se dá pelo desconhecimento e pelo medo, pois o deficiente representa a consciência da imperfeição, das limitações daqueles que o vêem, ou seja, de todos nós que compomos a sociedade.
Os estudos realizados por Vygotsky (1997) [4] trazem à tona um percurso histórico-social dos pontos de vista predominantes sobre a psicologia do cego a partir da idéia de que a cegueira não é somente um defeito, uma debilidade, mas “uma fonte de atitudes”, de força criativa, já que cria uma nova configuração da personalidade desses sujeitos. Nesse contexto as pessoas cegas, procuram construir seus conhecimentos e sua relação com o mundo tendo como base a forma como se dá a sua relação e/ou interrelação com o outro, pois o cego pode utilizar-se da visão de outra pessoa, assim como da experiência do outro como instrumento para ver. Nessa ótica, o mais importante não seria desenvolver o tato ou uma maior sensibilidade do ouvido, mas a linguagem, ou seja, a utilização da experiência social e a “comunicação” com os videntes. Essa mudança de foco faz com que a sociedade repense a deficiência e veja esses cidadãos sob a ótica de suas potencialidades, sem compará-los com o padrão de normalidade imposto pela sociedade que de uma forma ou de outra busca estabelecer um padrão de “normalidade”.

b)     Descreva com suas palavras, o conjunto anatômico e fisiológico do olho, lembre-se de relacionar a função do córtex cerebral envolvido no ato de enxergar.

 “o cérebro desenvolveu uma maneira de olhar para o mundo exterior. O olho é um pedaço do cérebro que toca a luz, por assim dizer, pelo lado de fora”.
 Richard Phillips Feynman Nobel de Física (1918-1988) [5]

O ato de enxergar é um processo complexo no qual se articulam um conjunto anatômico e fisiológico composto por: função cerebral, globo ocular e nervo óptico que devem estar em perfeito estado, isto é, preservados. A visão é um processo fisiológico por meio do qual se distinguem as formas e as cores dos objetos. Nosso olho funciona como uma câmara fotográfica que projeta uma imagem invertida do mundo exterior em sua porção interna posterior, onde existe um revestimento sensível à luz, a retina, que envia informações codificadas ao sistema nervoso central, dando-nos a sensação da visão.
O globo ocular recebe este nome por ter o formato de um globo, mantém essa estrutura devido a um material gelatinoso e transparente chamado de humor vítreo. Em sua parte frontal essa gelatina é substituída por um líquido transparente denominado humor aquoso. O globo ocular fica dentro de uma cavidade óssea, é protegido pelas pálpebras e formado por três camadas, a saber:

·                         Esclera ou esclerótica (branco do olho) – tem a função de proteção do globo ocular. É sua camada externa é mais resistente. Em sua parte anterior torna-se mais fina, delicada e transparente formando a córnea (transparente, cheia de nervos e nutrida pelo humor aquoso) que permite que a luz entre no olho.

·                         Coróide é a membrana média ou vascular (rica em vasos sanguíneos). É composta pela íris (rica em pigmento) que determina a cor dos olhos. No meio da íris há um orifício chamado pupila (menina dos olhos) cuja função é controlar a entrada de luz no globo ocular. A luz que chega ao olho entra por sua parte frontal e passa através do cristalino que deve ser transparente. Este conjunto funciona como um sistema de lentes convergentes, formando uma imagem na parte sensível do olho: retina.

·                         Retina é a parte posterior do olho. É formada em sua maior parte por células “nervosas”. É o local onde se forma a imagem ou visão que é traduzida pelo cérebro. Nela os cones percebem as radiações luminosas e distingue as cores. Os bastonetes, não têm poder de resolução visual tão bom, mas são mais sensíveis à luz que os cones. Em situações de pouca luminosidade, a visão passa a depender exclusivamente dos bastonetes que são importantíssimos para a visão noturna.

O Cristalino, por sua vez, é uma espécie de lente que fica dentro de nossos olhos. Está situado atrás da pupila e orienta a passagem da luz até a retina. A retina é possui muitas células nervosas que levam a imagem através do nervo óptico para que o cérebro as interprete. Se houver alguma falha nesse processo a visão fica prejudicada e pode ocasionar uma deficiência visual irreversível.  Torna-se, por isso, indispensável que nos primeiros anos de vida haja uma identificação precoce de quaisquer alterações no funcionamento da visão. Para isso deve-se estar muito atento a alguns sinais tais como: tontura, náusea, fotofobia, irritação nos olhos, piscar de maneira excessiva, dificuldade para escrita e leitura...   que ajudam na prevenção de alterações visuais mais comuns.
O olho ainda apresenta as pálpebras, as sobrancelhas, as glândulas lacrimais, os cílios e os músculos oculares. A função dos cílios (pestanas) é impedir a entrada de poeira e o excesso da luz. As sobrancelhas também têm a função de não permitir que o suor da testa entre em contato com os olhos. A membrana conjuntiva é uma membrana que reveste internamente duas dobras da pele que são as pálpebras. São responsáveis pela proteção dos olhos e para espalhar o líquido que conhecemos como lágrima cuja função é a de lubrificar o olho.
Enfim, a capacidade de ver e de analisar as imagens visuais, depende, inegavelmente, da função cerebral de receber, decodificar, selecionar, armazenar e associar essas imagens a experiências anteriores. Para ver o mundo, é necessário que um complexo sistema esteja funcionando de maneira integrada e os olhos representam apenas uma dessas partes. Deve-se levar em conta também os aspectos fisiológicos, funcionais, perceptivos e psicológicos que envolvem a compreensão do mundo que vemos e sentimos.

Webgrafia:



[2] OLIVEIRA, A.A. S, OMOTE, S. GIROTO, C.R.M. Inclusão Escolar: contribuições da Educação Especial. São Paulo: Cultura Acadêmica Editora, Marília: Fundepe Editora, 2008.
[3] AMARAL, L.A. Pensar a diferença: deficiência. Brasília: Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 1994 (p. 16-21).
[4] VYGOTSKI, L.S. Fundamentos de defectologia. Tomo V. Madrid: Visor, 1997.

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