sábado, 10 de setembro de 2011

O diagnóstico clínico x o diagnóstico pedagógico


“... Sim, o seu filho pode ser ensinado e estimulado a enxergar melhor em todas as situações do dia a dia: dentro de casa e na escola. Quanto mais ele usar a visão, mais aprenderá a ver”.
                          (POSEAD, p. 24)

a) Qual a relação entre a avaliação clínica/médica e a avaliação funcional da visão, contida na avaliação psicopedagógica? E quais os aspectos que caracterizam cada uma dessas avaliações?

            A relação entre a avaliação clínica/médica e a avaliação funcional/psicopedagógica é que a primeira é realizada por um oftalmologista especializado (visa à patologia e o diagnóstico). É importante por ser uma ferramenta norteadora para a avaliação funcional/psicopedagógica da visão que é realizada por um pedagogo especializado em deficiência visual que visa à estimulação do resíduo visual. Assim sendo, fica claro que, a avaliação clínica/médica fornece as informações necessárias em relação ao diagnóstico do aluno (cego ou baixa visão), e os aspectos que caracteriza qual e como são o resíduo visual do aluno, suas dificuldades visuais, assim como as intervenções necessárias.
É necessário que nós professores saibamos que uma avaliação completa a outra e que se o diagnóstico apontar para a baixa visão, pode existir um resíduo visual não desenvolvido pronto para ser ativado através da estimulação, tornando-o “eficiente”, isto é, funcional.  Lembramos ainda que há portadores do mesmo grau de acuidade visual que apresentam níveis diferentes de desempenho visual. Logo, cada caso é um caso.


            b) Explicite com suas palavras os principais objetivos da estimulação visual e apresente os recursos utilizados para que esses objetivos sejam alcançados.
Os principais objetivos da estimulação visual estão focados na possibilidade de se fazer com que os alunos deficientes visuais, em especial os de baixa visão, desenvolvam de maneira eficiente a sua capacidade/potencial para enxergar, isto é, que façam uso do seu resíduo visual de maneira eficiente, tornando-se, assim, autônomos na escola e nas atividades de vida diária. É importante também salientar que a visão não se “gasta” com o uso.
            O professor da sala regular deve conhecer ou ter acesso ao diagnóstico, à avaliação funcional da visão, ao contexto familiar e social, assim como as alternativas e os recursos disponíveis que facilitem o ato de planejar de e de organizar as atividades e o trabalho pedagógico.
            É importante salientar que a deficiência visual não impede que haja a aprendizagem. Ela é apenas um limitador, por isso é essencial à utilização de recursos ópticos e não ópticos para facilitar o ato de aprender.
            O apoio aos alunos com deficiência visual não deve ser visto apenas como de responsabilidade do professor especialista ou do professor de sala regular. Deve sim, ser entendido como uma ação coletiva que deve contar com a participação de todos os “atores” da unidade escolar (diretor, coordenador, professor, funcionários), do professor especialista, assim como da família. Ações individualizadas não surtem efeito, enquanto que ações coletivas respaldadas no Projeto Político Pedagógico da escola, sim!
Alguns recursos auxiliam a melhorar a eficiência visual, principalmente na escola. São eles:

A)  Para Baixa Visão:
1- Recursos Ópticos
Para perto: lentes de aumento (lupa manual e lupa de apoio)
Para longe: telescópio ou telelupa (para lousa, televisão, reconhecer ônibus).
Obs.: Quanto mais poderosa a lente, menor o campo visual, é necessário destreza e treinamento especializado para a utilização.

2- Recursos Não Ópticos
Não utilizam lentes para melhorar o desempenho visual, porém recomenda-se:
·         aluno sentar-se na frente da sala;
·         iluminação adequada;
·         cadernos com pautas ampliadas;
·         lápis preto 4B ou 6B;
·         canetas hidrográficas para maior contraste (preferencialmente na cor preta ou azul);
·         lições ampliadas (textos, mapas, desenhos) ou com reforço nos contornos com hidrográfica na cor preta preferencialmente;
·         prancha de plano inclinado para se obter uma maior visualização do material, permitindo-lhe que ajuste a melhor distancia entre a sua cabeça e o material a ser utilizado;
·         tiposcópio cuja finalidade é guiar a fixação visual do aluno na leitura, permitindo-lhe que não se perca na linha durante a leitura;
·         avaliações ampliadas e com menos questões ou tempo maior para a sua realização;
·         aproximação dos objetos.


B) PARA CEGUEIRA:
      1- Programa de Intervenção Precoce
·          Estimulação da criança (preferencialmente ainda bebê);
·          Orientação à família;
·          SAAI (Sala de Apoio à Inclusão = AEE) – cujo trabalho visa à inclusão do aluno em sala regular o mais cedo possível;.
·         Outras instituições como Fundação Dorina Nowill e Laramara (SP) e o Instituto Benjamim Constant (RJ);

2- Atividades Diretas
·          brinquedos, jogos e vivências do cotidiano;
·          esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal;
·          orientação e mobilidade;
·          coordenação motora;
·          desenvolvimento: tátil, sinestésico e auditivo;
·          alfabetização pelo sistema Braille;
·          uso da reglete e da máquina Braille;
·          uso dos sintetizadores de voz: Dos Vox e Virtual Vision, Jaws;
·          uso do soroban;
·          uso de materiais adaptados como: régua, transferidor, compasso, prancheta de desenho, fita métrica e outros;
·          transcrição de textos: em tinta ou em Braille
·          transcrição de trabalhos e avaliações do Braille para tinta (provas, atividades diversas);
·          adaptação de materiais: mapas, jogos, gráficos, desenhos;
·          orientação aos pais;
·          trabalho integrado com os conteúdos da sala regular;
·         trabalho de sensibilização com alunos da escola e com a comunidade.



 PROCESSO EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO DO DEFICIENTE VISUAL

·         Cada criança é única e deve-se respeitar o seu tempo e a sua capacidade de entender, seja ela deficiente o não. As pessoas têm personalidades diferentes e da mesma forma cada criança terá seu jeito de assimilar os fatos cotidianos e os conteúdos desenvolvidos em sala de aula.
·         A criança deficiente visual não deve ser comparada a uma criança vidente. Seu rendimento em classe é diferente, mas ela não deixará de aprender e de se desenvolver. Portanto, ela poderá ser incluída em todas as atividades escolares, tais como: arte, música, ginástica, teatro, apresentações de trabalhos, jograis, saraus, dentre outros.
·         As normas disciplinares aplicadas às outras crianças devem ser aplicadas também à criança deficiente visual, ela não deve ser tratada como uma “coitadinha” e excluída desse processo formador.
·         Com relação à locomoção: encoraje a criança a se locomover pela classe, na escola e no pátio, para que essa exploração forneça a ela informações preciosas sobre a escola.
·         Deixe-a aproximar-se dos objetos e manuseá-los.
·         Respeite o limite da criança e, se ela não pedir auxílio, não o dê. Porém, se perceber que essa criança está deixando de fazer a tarefa por constrangimento, medo ou insegurança em pedir ajuda, converse com ela em particular e esclareça o papel do professor na classe.    
·         Mencione sempre o nome de quem fala, pois às vezes devido à distância, a criança não conseguirá saber quem está falando e nem sempre o tom de voz é fácil de reconhecer.
·            Procure, na medida do possível, desencorajar os “maneirismos”. Algumas crianças com deficiência visual podem apresentar certos tiques. Por exemplo: balançar o corpo ou colocar as mãos sobre os olhos.
·         Na sala de aula, deixe que a criança que necessita de mais luz para ler e escrever sente-se próximo à janela.
·         Encoraje o uso da sua visão residual.


IMPORTANTE: Considere rendimento escolar do aluno deficiente visual em termos de suas aptidões e potencialidades e não de suas dificuldades associadas à deficiência visual. Há muitas atividades que o aluno consegue realizar, a princípio, com a ajuda do outro (coleguinha ou do professor) e depois sozinho. Isso, sim, é que deve ser levado em conta.






Referências Bibliográficas:

MIN, Hsu Yun, SAMPAIO, Marcos Wilson e HADDAD Maria Aparecida ONUKI. Baixa Visão: conhecendo mais para ajudar melhor. São Paulo. Laramara, 2001.
OLIVEIRA, Regina Carvalho de Salles, KARA-JOSÉ, Newton e SAMPAIO, Marcos Wilson. Entendendo a Baixa Visão. São Paulo. Laramara, 2000.
___________. Manual da Boa Visão do Escolar: solucionando dúvidas sobre o olho e a visão. Brasília. Ministério da Educação, 2000.

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